A qualidade do ar é um elemento de importância fundamental para a garantia da qualidade de vida dos indivíduos, da fauna e flora. Uma questão que ganha preponderância nos meios urbanos pela elevada concentração populacional, num contexto de combate às alterações climáticas e num paradigma de redução/eliminação do uso dos combustíveis fósseis. Uma preocupação plasmada na assinatura do Acordo de Paris (2015) com o estabelecimento da meta de redução de 30% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030.

 

Sendo que em Portugal o sector dos transporte é das principais fontes emissoras de gases poluentes (24% do total de emissões) [1] o município de Lisboa afirma-se apostado em contribuir para o cumprimento dos compromissos internacionais, através do desenvolvimento de um modo de transporte alternativo, a bicicleta.

 

Até 2018 pretende completar 200 quilómetros de ciclovia, conectando-se aos municípios limítrofes, e criar um sistema de partilha de bicicletas, o GIRA. O objectivo é tornar este modo de transporte, não poluente, uma alternativa ao transporte individual e um complemento ao sistema de público de transportes [2].

 

Sendo de valorizar a promoção de modos de mobilidade alternativos, que   contribuem quer para a qualidade ambiental, pela redução directa das emissões de GEE e pelo descongestionamento do trânsito dentro da cidade, quer para o incentivo à prática de hábitos salutares, surgem algumas questões.

 

Desde logo, será que o investimento, na promoção do uso da bicicleta, se cinge apenas à construção de ciclovias? Ao que parece, sim, dado que é possível ir do Parque das Nações ao Cais do Sodré sem passar por um ponto de água ou do Campo Grande ao Marquês de Pombal sem ter uma bomba de ar ou um ponto de reparação de pneus. É essencial que, para além das vias sejam criados estes pequenos equipamentos.

 

E se o GIRA pretende ser um transporte complementar para curtas distâncias (6km) não deveria estar integrado no sistema intermodal de passes? Se o objectivo é tornar o GIRA um transporte complementar não faz sentido que haja um passe "à parte", limitado a que tenha telemóveis de última geração capazes de suportar os aplicativos.

 

E como fica a relação com os transportes de médias/ longas distâncias? Os utentes sentir-se-ão certamente entusiasmados por poderem integrar um modo de transporte suave no seu dia-a-dia, mas provavelmente sentir-se-ão frustrados pela falta de condições dos modos complementares, com escassa frequência, horários reduzidos e insuficientes viaturas.

 

É sem dúvida um passo para a melhoria da qualidade do ar e para um ambiente urbano de qualidade, mas muito aquém do necessário. É essencial dar garantias de segurança aos utilizadores de bicicletas criando infra-estruturas de apoio, iluminando os percursos e eliminando as barreiras arquitectónicas, e intervir com urgência no sistema de transportes públicos com mais viaturas, mais circuitos, maior frequência e horários alargados e adequados às necessidades. É imperativo ter uma câmara municipal ao lado das populações e em defesa dos transportes públicos de qualidade e inclusivos para uma efectiva mobilidade amiga do ambiente.

 

 

Cecília Rocha

 

 

 

[1] Agência Portuguesa do Ambiente. Memorando sobre emissões de GEEs. Versão 30/05/2017. In https://www.apambiente.pt/index.php?ref=17&subref=150 consultado em 23/11/2017.

 

[2] Câmara Municipal de Lisboa. In http://www.cm-lisboa.pt/viver/mobilidade/mobilidade-ciclavel consultado em 23/11/2017.