Para entendermos o resultado de uma viagem não basta identificar o suposto  ponto de origem, mas também percorrer todo o caminho. Se desviarmos o olhar para trás e contemplarmos o itinerário percorrido, podemos medir melhor a dimensão, a persistência  e a profundidade do labor da Câmara Municipal de Vila Viçosa em benefício da valorização, da conservação, da promoção e do reconhecimento do património cultural da «bela Callipole».

A ideia de preparar a candidatura da «vila ducal» à Lista do Património Mundial da Unesco remonta a meados dos anos de 1990 e foi um desafio lançado durante um evento público do pelouro da Cultura da autarquia local, tratando-se da primeira referência pública conhecida sobre esta temática.

A preparação da candidatura tem decorrido de forma dilatada no tempo e com prazos temporais realistas, que permitiram estabelecer mecanismos adequados de apoio, reunir material e consultar interessados. Deste modo, hoje dispomos de informação credível e fundamentada e de material sobre o bem proposto, contrariando um perigo das candidaturas mal-sucedidas, como é o caso da falta de tempo.

Este desígnio colectivo, arrancou formalmente com a realização da primeira reunião da Comissão de Candidatura que ocorreu em Setembro de 2002. No desenvolvimento deste processo, no Verão de 2004, foi apresentado o primeiro pedido de inclusão de Vila Viçosa na Lista Indicativa dos Bens Portugueses a Património Mundial, tendo sido posteriormente entregue na Comissão Nacional da Unesco uma nova versão reformulada. Este documento foi editado e apresentado publicamente, em Vila Viçosa, no dia 10 de Maio de 2008.

Mais recentemente, o actual executivo camarário deu um novo impulso a este processo, para a elaboração do formulário para a candidatura da vila brigantina à Lista Indicativa, para a elaboração do estudo comparativo e, sobretudo, para a reformulação do referido Documento. No ano de 2014, foi realizado um esforço concreto no sentido da criação de um contexto mais favorável aos propósitos finais da candidatura. Assim, neste período foi criado um espaço de análise, aprofundar destinado a aprofundar alguns temas, reformular estratégias, privilegiar novas linhas de investigação e reforçar o debate à volta de questões relacionadas com o património local. As vertentes propulsoras deste exercício de reflexão apontaram para a celebração do protocolo de cooperação com a Faculdade de Arquitectura de Lisboa, de modo a podermos contar com o contributo de especialistas de referência na área da arquitectura, do urbanismo e da história da arte, para a renovação do modelo organizacional da candidatura e para a sua adaptação às condições actuais do sistema do património mundial e às novas tendências da Unesco. A este período pertence, ainda, a fase de reapreciação da identificação do bem a candidatar que passou a ser denominado «Paisagem urbana, arquitectónica, histórica e cultural», .

Com este pano de fundo, a Comissão Nacional da Unesco decidiu, há cerca de um ano, inscrever o Bem «Vila Viçosa, vila ducal renascentista» na Lista Indicativa de Portugal ao Património Mundial. Não é demais sublinhar que se trata de uma decisão tomada com base na avaliação rigorosa de um painel de especialistas, que analisou a justificação do Valor Excepcional do Bem proposto e que reconheceu a extraordinária capacidade de autenticidade e a integridade de todos as suas valências. Esta distinção constitui, em termos patrimoniais, uma das maiores realizações das últimas décadas.

Acresce que tal decisão, alicerça-se na certeza do excepcional significado deste património para a comunidade local e para o País. Mas, também na convicção de que a sua deterioração ou desaparecimento poderiam constituir uma perda para todos os povos do mundo. A partir de agora, de certa forma, Vila Viçosa não é só dos calipolenses, nem apenas dos portugueses. É de todos os que sentem o seu património cultural com uma verdadeira dimensão internacional e como um legado comum da Humanidade. Por isso, a nossa responsabilidade é local, nacional e internacional.

De igual modo, esta inscrição, fomenta a abertura da «Capital dos Mármores» à comunidade local, aos portugueses e ao mundo, num desejo de valorizar o nosso património cultural e promover o desenvolvimento local, constituindo um leque de oportunidades no futuro e um precioso veículo de divulgação e de referência turística.

Não é demais sublinhar que hoje assinalamos a inscrição de Vila Viçosa na Lista Indicativa de Portugal para reforçar a unidade e mobilizar a comunidade local em torno deste desiderato. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar o nosso património cultural a favor do presente. Para renovar a legitimidade e a pertinência histórica, cultural, social e económica deste município. Ou, dito de outro modo, para utilizar o património a favor do presente e do futuro das novas gerações de calipolenses.

Naturalmente que a inscrição da vila paçã na Lista Indicativa de Portugal ao Património Mundial é um motivo de congratulação e de orgulho para todos os calipolenses. Contudo, não deve iludir ou esbater o que ainda precisa de ser feito. Agora todos os nossos esforços encontram-se virados para a preparação do dossier final da candidatura.

Trata-se de um desígnio antigo que se ilustra pela determinação, pela persistência, pelo espírito insubmisso e pelo esforço empreendedor, assim como pela enorme capacidade de ambição, condições indispensáveis para ultrapassar as apertadas exigências da Unesco.

 

 

Manuel Condenado

(presidente da Câmara Municipal

de Vila Viçosa)