A trajectória palmilhada, após o 25 de Abril, deixou marcas profundas enraizadas em toda a população imbuída de uma consciência colectiva, onde o património histórico herdado constituía uma pertença de todos os que aqui viviam e trabalhavam e sobre eles recaía a responsabilidade de o vivificar, de o preservar, como reminiscência dos antepassados, marcos históricos que eram e traços profundos da sua própria identidade.

 

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Postal comemorativo do 30.º aniversário Évora Património Mundial / CME

 

A trajectória palmilhada, após o 25 de Abril, deixou marcas profundas enraizadas em toda a população imbuída de uma consciência colectiva, onde o património histórico herdado constituía uma pertença de todos os que aqui viviam e trabalhavam e sobre eles recaía a responsabilidade de o vivificar, de o preservar, como reminiscência dos antepassados, marcos históricos que eram e traços profundos da sua própria identidade.

 

A gestão municipal muito contribuíu para a convergência desta emulação social e para o fortalecimento significativo do Poder Local Democrático.

 

Ganhou-se consciência colectiva, o que impulsionou a câmara municipal a ousar propor a todas as cidades do mundo classificadas pela UNESCO a criação de uma associação mundial. Essa associação, denominada Organização das Cidades Património Mundial (OCPM), foi aprovada, por unanimidade, no encontro mundial realizado em Toronto, em 1991.

 

A participação activa do executivo municipal nos trabalhos desta associação permitiu que, candidatando-se, lhe fosse atribuída a realização, em 1997, do IV Encontro Mundial das Cidades Classificadas pela UNESCO e da III Assembleia Geral da Organização, com a presença do primeiro-ministro e do Presidente da República Portuguesa.

 

A vivência democrática tornou possível a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Cidade de Évora com o envolvimento do poder local (Câmara Municipal), do poder central (Comissão de Coordenação Regional), dos empresários (representados pelo Núcleo Empresarial da Região de Évora), dos trabalhadores (representados pela União dos Sindicatos de Évora) e dos agentes culturais (representados pelo CENDREV). Este plano constituiu um exemplo de convergência participativa em torno de objectivos concretos de desenvolvimento da cidade centrada na vasta região alentejana.

 

No planeamento global do município, após o 25 de Abril, a primeira prioridade era responder às necessidade básicas dos locais onde vivia a maior parte da população: eram cerca de 45.000 moradores os que viviam fora do centro histórico, enquanto neste viviam apenas cerca de 8.000.

Assim, até meados dos anos oitenta, o grande esforço da gestão autárquica incidiu na resolução dos problemas mais sentidos pela maior parte da população que vivia em bairros de génese clandestina e que foram contemplados com as infraestruturas de água, esgotos, electricidade, ruas alcatroadas, largos e jardins, parques infantis, recintos para desporto, centros de convívio ou de moradores.

Foi determinante nesse esforço a participação activa dos moradores organizados em associações e comissões de moradores. Estes, não só contribuiram com as suas opiniões na elaboração dos planos de pormenor de cada bairro, como se envolveram na abertura das valas, na colocação de tubos e em todo um conjunto de intervenções, nas quais cada um dava conforme as suas possiblidades. Esse esforço e essa participação empenhada criaram uma consciência colectiva na comunidade pautada por laços de solidariedade e entreajuda na consolidação do poder autárquico muito recentemente instituído e na auto-estima das populações.

 

Se a intervenção executiva incidiu prioritariamente fora do centro histórico nos primeiros dez anos, não deixou de constituir preocupação e objecto de estudo durante esse tempo a especifidade e qualidade patrimonial do centro histórico de Évora.

 

A Câmara Municipal de Évora assumiu, com os seus técnicos e recursos, a candidatura da classificação. O governo de então enviou, de imediato, essa candidatura à UNESCO. Esta, por sua vez, sem que tivesse havido qualquer diligência ou pressão complementar, classificou todo o entro histórico como Património da Humanidade, em 25 de Novembro de 1986.

 

Foi com profunda emoção que as gentes deste município, de todas as classes e camadas sociais, rejubilaram com a classificação. Ela constituiu um factor decisivo para a coesão social do município e para o fortalecimento da democracia participativa.

 

 

 

Abílio Fernandes

 

(Economista e presidente

CM Évora entre 1976-2001)