O sucesso de um projeto ou obra é um desejo acompanhado sempre por angustiante incerteza até ao momento da sua concretização e, sobretudo, até à sua apropriação por parte dos utilizadores. O sítio onde veio a nascer o novo espaço verde da Quinta dos remédios, aberto à população, reunia todos os indicadores para a adesão da população:
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A sua localização no seio de um tecido urbano denso, entre a Bobadela e São João da Talha, parte da União das Freguesias de Santa Iria de Azóia com uma população de mais de 40000 habitantes;
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A carência de espaços de lazer informal, particularmente sentida em função das sucessivas barreiras rodoferroviárias e de logística, que separam a população da margem do Tejo;
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A presença do Instituto Superior Técnico e a sua disponibilidade para interagir com a população na base de um “jardim de ciência” capaz de proporcionar a aproximação à atividade científica;
Cercada por muros, a Quinta dos Remédios, situada na Bobadela, data do Século XVIII e foi, durante dois séculos, uma quinta de produção agrícola de aproximadamente oito hectares, com casa senhorial, lagar, poço com nora e tanque de rega, com laranjeiras, vinha, oliveiras e terras de semeadura.
Adquirida como mera reserva de expansão das instalações afetas ao campo de investigação da energia nuclear, sedeadas naquele lugar desde a instituição da Junta de Energia Nuclear, manteve-se nas últimas décadas, como um espaço rigorosamente encerrado e flagrantemente divorciado da comunidade envolvente, mais ainda pelo condicionamento da vida quotidiana das populações na aplicação das prerrogativas decorrentes da servidão associada.
Hoje, a conjugação de vontades do município de Loures e do IST - Instituto Superior Técnico (atual detentor do espaço), firmada num protocolo de colaboração, permitiu abrir as portas da quinta à população, quer como um espaço de lazer informal privilegiado paisagisticamente, quer como oportunidade de aproximação da população à experiência científica.
A abertura em Janeiro de 2016, do parque de recreio e lazer da Quinta dos Remédios, com uma área de 4,3 hectares, corresponde à primeira fase de um amplo projeto previsto para a quinta, onde se pode desde já disfrutar o olival e apreciar as vistas do Tejo e da Ponte Vasco da Gama, observar a fauna ou simplesmente caminhar.
A curto e médio prazo serão executados as restantes duas fases do Parque da Quinta dos Remédios, que afirmarão este espaço, no contexto da Área Metropolitana de Lisboa com a instalação primeiramente de um centro de ciência e tecnologia, baseado na reabilitação do Palácio dos Condes de Mendia, situado à entrada da quinta.
O palácio servirá para atividades pedagógicas e divulgação científica e cultural. Nos termos protocolados entre o município de Loures e o IST teve já início a elaboração de um plano de pormenor que estabelecerá as formas de ocupação do espaço, conjugando o parque de fruição pública com o polo de ciência e tecnologia do IST, num conjunto que se pretende que seja exemplar e de referência na Área Metropolitana de Lisboa.
O projeto da Quinta dos Remédios destaca-se por não se tratar apenas de um novo parque urbano mais um polo universitário e de investigação científica, o que só por si já seria de maior valia, mas da conjugação criativa e que se pretende dinâmica das duas valências, explorando novos modos de aproximar a população e a ciência, e de sensibilização para a investigação científica, particularmente das camadas mais jovens da população.
Neste processo, destaca-se igualmente a capacidade de diálogo entre o poder político autárquico e uma instituição de ensino superior e investigação científica, e a disponibilidade para o desenvolvimento de formas de cooperação criativas em respeito por aqueles que habitam os territórios, fator determinante para o sucesso.
Tiago Matias